Total de visualizações de página

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

VIDAS SECAS



O autor
Graciliano Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrângulo, Alagoas, filho de Sebastião Ramos de Oliveira e de Maria Amélia Ferro Ramos. Dois anos depois, a família muda-se para Buíque, Pernambuco, e logo depois volta para Alagoas, morando em Viçosa e Palmeira dos Índios até 1914. Graciliano estuda, então, e trabalha na loja do pai comerciante.

Em 1914, vai para o Rio de Janeiro, onde mora durante um ano e trabalha como jornalista. No ano seguinte, volta para Palmeira dos Índios e se casa com Maria Augusta Barros, que morre cinco anos depois. Graciliano já, nessa época, escreve para jornais e trabalha com comércio.

Seu segundo casamento, com Heloísa Medeiros, ocorre em 1928, no mesmo ano em que é eleito prefeito de Palmeira dos Índios, cidade que seria palco de seu primeiro romance Caetés.

Em 1930, renuncia à prefeitura e vai para Maceió, onde é nomeado diretor da Imprensa Oficial, mas demite-se no ano seguinte, voltando em seguida para Palmeiras dos Índios, onde funda uma escola e escreve o romance São Bernardo.

Em 1933, é nomeado diretor da Instrução Pública de Alagoas e volta a Maceió. Sua carreira é interrompida em 1936, quando é demitido por motivos políticos. Nesse mesmo ano, publica o romance Angústia e acaba sendo preso e enviado ao Rio de Janeiro. Dessa fase em que passa preso resultaria, mais tarde, seu livro Memórias do Cárcere.

Ao sair da prisão, em 1937, passa a morar no Rio de Janeiro, onde escreve para jornais. No ano seguinte, publica a obra Vidas Secas, escrita num quarto de pensão. Em 1939, é nomeado Inspetor Federal do Ensino.

Em 1945, Graciliano entra para o Partido Comunista Brasileiro e, sete anos depois, faz uma viagem a Tchecoslováquia e à União Soviética.

Graciliano Ramos morre em 20 de março de 1953 sem nunca ter retratado uma paisagem do Rio de Janeiro. Conta-se que certa vez andava com um de seus filhos, a pé, pela cidade. Chegaram a Laranjeiras, onde moravam. O filho parou de repente e exclamou: "Como isso aqui é bonito!". Graciliano ficou surpreso e perguntou se ele achava aquela cidade tão bonita assim. Para Graciliano, Alagoas era seu único universo.

Trecho do livro:


Fuga

A vida na fazenda se tornara difícil. Sinhá Vitória benzia-se tremendo, manejava o rosário, mexia os beiços rezando rezas desesperadas. Encolhido no banco do copiar, Fabiano espiava a caatinga amarela, onde as folhas secas se pulverizavam, trituradas pelos redemoinhos, e os garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul as últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre.

Mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem com a mulher, matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se despedir do amo. Não poderia nunca liquidar aquela dívida exagerada. Só lhe restava jogar-se ao mundo, como negro fugido.

Saíram de madrugada. Sinhá Vitória meteu o braço pelo buraco da parede e fechou a porta da frente com a taramela. Atravessaram o pátio, deixaram na escuridão o chiqueiro e o curral, vazios, de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os juazeiros. Ao passar junto às pedras onde os meninos atiravam cobras mortas, Sinhá Vitória lembrou-se da cachorra Baleia, chorou, mas estava invisível e ninguém percebeu o choro.

Desceram a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumo para o sul. Com a fresca da madrugada, andaram bastante, em silêncio, quatro sombras no caminho estreito coberto de seixos miúdos - os meninos à frente, conduzindo trouxas de roupa, Sinhá Vitória sob o baú de folha pintada e a cabaça de água, Fabiano atrás de facão de rasto e faca de ponta, a cuia pendurada por uma correia amarrada ao cinturão, o aió a tiracolo, a espingarda de pederneira num ombro, o saco da malotagem no outro. Caminharam bem três léguas antes que a barra do nascente aparecesse.

Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na incerteza de que aquilo fosse realmente mudança. Retardara-se e repreendera os meninos, que se adiantavam, aconselhara-os a poupar forças. A verdade é que não queria afastar-se da fazenda. A viagem parecia-lhe sem jeito, nem acreditava nela. Preparara-a lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e só se resolvera a partir quando estava definitivamente perdido. Podia continuar a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos seco para enterrar-se. Era o que Fabiano dizia, pensando em coisas alheias: o chiqueiro e o curral, que precisavam conserto, o cavalo de fábrica, bom companheiro, a égua alazã, as catingueiras, as panelas de losna, as pedras da cozinha, a cama de varas. E os pés dele esmoreciam, as alpercatas calavam-se na escuridão. Seria necessário largar tudo? As alpercatas chiavam de novo no caminho coberto de seixos.

Agora Fabiano examinava o céu, a barra que tingia o nascente, e não queria convencer-se da realidade. Procurou distinguir qualquer coisa diferente da vermelhidão que todos os dias espiava, com o coração aos baques. As mãos grossas, por baixo da aba curva do chapéu, protegiam-lhe os ombros contra a claridade e tremiam.

Os braços penderam, desanimados.
- Acabou-se.
Antes de olhar o céu, já sabia que ele estava negro num lado, cor de sangue no outro, e ia tornar-se profundamente azul. Estremeceu como se descobrisse uma coisa muito ruim.

Desde o aparecimento das arribações vivia desassossegado. Trabalhava demais para não perder o sono. Mas no meio do serviço um arrepio corria-lhe no espinhaço, à noite acordava agoniado e encolhia-se num canto da cama de varas, mordido pelas pulgas, conjecturando misérias.

A luz aumentou e espalhou-se pela campina. Só aí principiou a viagem. Fabiano atentou na mulher e nos filhos, apanhou a espingarda e o saco de mantimentos, ordenou a marcha com uma interjeição áspera.


(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 16. ed. São Paulo, Martins,1967. p. 147-9).
Extraído e adaptado de http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/vidassecas




Atividade: Cabra marcado para viver

Objetivos

•Identificar onde se passa a história narrada no texto a partir das características do local e das pessoas.

•Estudar as condições de vida do povo do sertão do Nordeste marcadas pela fome e miséria.

Introdução

Termos como “cabras” para se referir a pessoas, deitar em rede, sol escaldante, açudes, juazeiro, farinha, dentre outros são características do sertão do Nordeste brasileiro. A partir da apresentação dos elementos da paisagem no decorrer da narrativa, é possível identificar o local.
Contexto no mundo do trabalho: Os retirantes que vagam pelo meio do sertão em busca de água e comida são marcantes no espaço do sertão nordestino. O latifúndio e as dificuldades em produzir e escoar a produção acabam por expulsar grandes levas de camponeses de suas terras, gerando o êxodo rural e agravando o desemprego urbano.


1.Faça uma leitura do texto:

2.Identifique qual é o eixo central da história.

3.Destaque no texto elementos da paisagem que identifiquem em qual lugar do Brasil se passa a história.

4.Associe esses elementos como sendo parte de uma paisagem típica do sertão do Nordeste.

5.A partir da caracterização do local, descrever as condições sociais em que a cena se passa. Buscar no texto elementos que justifiquem a resposta.

6.Pesquise no gloogle, o autor da pintura retratada na imagem acima. Descreva com suas próprias palavras a imagem retratada.

Resultados esperados:

a.Identificar o local onde se passa a trama a partir dos elementos da paisagem, associando-os ao domínio morfo-climático do sertão do Nordeste.

b.Refletir sobre a questão da fome e sua influência na atitude das pessoas.

Dicas: sites – IBGE (http://www.ibge.gov.br/home/default.php) – Dados estatísticos estão disponíveis e servem de referência para uma melhor compreensão dos problemas que afligem o sertão do Nordeste.

Nenhum comentário: